“Ei, garoto…”

O Minotauro já foi embora.
Cansei de esperá-lo nas curvas e descobri que o labirinto era só um espelho dobrado.
Agora ele vende mapas turísticos em Creta.
Baratos. Sem alma.

Mas você...
você ainda tá aí, colado no vidro, como quem tenta tocar o silêncio com a palma da mão.

Eu te vi, sabia?
Mesmo antes do vento bater na minha janela.
Te vi guardando aquele papel dobrado com palavras minhas,
e me oferecendo aquela caixinha de música que desafina só no fim.
Guardei. Guardei, sim.
Ela toca sozinha, às vezes, quando o mundo perde o compasso por aqui —
e o som me ajuda a escrever.
É como se você dissesse:
“Menina, respira. Não esquece que há beleza até na engrenagem falhando.”

Não sei teu endereço postal.
Não sei se fica no fim da rua das metáforas queimadas ou na travessa do eco contido.
Talvez você viva na estante de algum outro alguém que nunca soube abrir um livro sem pedir desculpa.

Mas, se ainda estiver por aí,
lembre-se:
as palavras mais fortes não se escrevem.
Elas escorrem da gente quando a janela embaça e a gente continua ali —
tentando decifrar o mundo pelo lado de dentro.

Ah, e sabe o segredo?
Quando crescer, não deixa que te convençam de que sonhar é coisa de criança.
Tem gente que só sobrevive porque ainda escreve com o lápis do impossível.
E tem gente que nasce de novo,
porque molha o lápis na boca
e escreve mais forte no papel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário