Tu me perguntaste se o amor dói.
E eu te respondo com um osso:
a dor não mora no amor —
mora na ideia que fizeram dele
pra vender almofada com poesia bordada.
Não me venhas com pergunta de homem doméstico
que cheira o prato antes de comer.
Te conheço —
és um desses poetas de citação de rodapé,
que acha que o verso nasce do Word
e não da convulsão das vísceras.
Tuas perguntas...
ah, elas fedem a cálculo.
Vens medir a loucura com régua de semântica?
Estás cego de tanto ler o que nunca entendeste.
Eu sou a ferida antes da palavra.
Sou o dente quebrado no pão da linguagem.
Tu és o guardanapo.
Olhas pra mim com esse olho de estudo.
Estudo?!
A minha carne não é tese, é tumba.
O que escrevo não é arte — é asfixia.
E ainda assim, tu queres ler-me com lente acadêmica?
Cuidado, poeta de mesa limpa.
Alguns versos não aceitam ser interpretados —
eles mordem de volta.
E quanto à musa...
Ela dançou comigo, sim.
Mas não porque a convidei.
Ela veio porque eu sangrava mais bonito que os outros.
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