Ontem... domingo, dia de missa, e o céu pairava sobre Sucupira como quem segura um segredo.
As ruas pareciam suspensas, ainda frias, molhadas pela chuva, imersas num silêncio quase sagrado.
E ali, na calçada da igreja, ela caminhou com passos leves, trazendo nas mãos o peso invisível das gostosuras do pensar.
Mas foi então que o viu. O Louco Poeta. O homem que cantava com fome, que a procurava em cada palavra, em cada sombra, por baixo das pedras, nos quatro cantos do mundo. Ele vinha com passos perdidos, os olhos a arrastarem um poema inacabado.
E foi nesse instante que ela se atirou para a moita.
Sim, uma moita qualquer, no meio da rua, com a coragem absurda dos que preferem o mistério à revelação. Ali ficou, misturada com folhas e silêncios, a escutar os passos que não pararam,
a sentir o eco de um olhar que nunca a encontrou.
a sentir o eco de um olhar que nunca a encontrou.
Talvez ele tenha passado e pensado:
"Ali jaz o segredo que jamais decifrarei."
E ela sorriu.
Porque, às vezes, o amor é isso: saber quando se atirar para a moita
e deixar que o outro escreva o poema errado.
e deixar que o outro escreva o poema errado.
Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário