O Despertar de Zefinha

Em Sucupira, onde cada pedra e cada olhar escondem um melodrama suficiente para abalar os alicerces do céu, Zefinha, ou Josefha para os que cultivam o formalismo como quem cultiva orquídeas raras, tornou-se a personagem principal de uma farsa cósmica tecida com os fios da própria vida. Numa tarde de sol traiçoeiro, que mais parecia um equívoco climático, flagrei Zefinha à beira da mata ancestral, olhando ao redor com a suspeita de quem tramava desvendar ou criar um segredo.

"O que diabos essa mulher vai fazer lá?", murmurei para mim mesmo, com a adrenalina fofoqueira de Sucupira correndo nas veias. Não resistindo ao chamado do desconhecido, segui-a, movido pela mesma força inexorável que leva o pecado ao confessionário.

Zefinha, com sua saia rodada como uma cortina de teatro e um lenço que pintava mil cores no ar, pisava com a autoridade de quem sabe todos os segredos do chão que pisa. Eu, atrás, me questionava: "Será que é alguma macumba suburbana ou apenas um chamado mais terreno?"

O destino de Zefinha era conhecido apenas pelos arcanos da cidade, pois só os velhos sabedores de Sucupira compreendiam que ela se dirigia ao tronco sagrado do Jequitibá, um palco de encontros entre os espíritos da floresta e os vivos, sob o véu do crepúsculo.

Ao alcançar seu teatro natural, ela não titubeou: abraçou a árvore com a intimidade de um velho amor, fechou os olhos e inspirou o éter da floresta. Iniciou então um ritual raramente visto por olhos profanos. Com murmúrios que poderiam ser confundidos com a brisa, Zefinha invocava o famoso sono da confiança, aquele estado sublime onde a alma de Sucupira se desnuda sem pudores, pronta para receber as fofocas etéreas que atravessam eras.

Os ancestrais não cochichavam, eles declamavam segredos com a eloquência de quem já não teme a verdade. E ali, escondido atrás de uma moita, quase me deixei levar pelo terror sagrado de ser descoberto.

As matriarcas da região dizem que neste sono encantado, a confiança se tece como uma cortina de teatro, onde cada sonho é uma cena dirigida pela própria mãe natureza. Zefinha buscava essa conexão divina para decifrar os enigmas comunitários e aplacar as angústias ocultas nos corações dos sucupirenses.

Sob o testemunho das árvores ancestrais, ela se entregou ao sono dos deuses. As horas se desenrolaram como uma fita de cinema, e a noite estendeu seu manto estrelado sobre o palco da vida. Eu, ainda escondido e agora tremendo não de medo, mas de um frio que esculpia ossos, observava o desfecho incerto deste drama noturno.

Quando Zefinha despertou, a noite já vestia suas sombras mais densas. Ela se levantou, visivelmente rejuvenescida, os olhos faiscando com a luz de quem conversou com estrelas. Retornou à vila não apenas anos mais jovem, mas com uma aura que desafiava a própria noite.

De volta à civilização de Sucupira, manteve o silêncio dos iniciados. E eu, que vi tudo, debatia-me entre o dever do segredo e a urgência de narrar esse milagre cotidiano. Nos dias que seguiram, as palavras e ações de Zefinha transbordavam uma sabedoria tão abissal que mesmo os mais céticos tiveram que se render à evidência de que algo extraordinário se passara sob o manto daquela mata.

E assim, o mistério do sono rejuvenescedor de Zefinha entrou para o arsenal de segredos de Sucupira, sussurrado de boca a boca, lembrando a todos que, por vezes, é necessário mergulhar nos abismos da existência para verdadeiramente apreender os segredos que ela reserva, num eterno jogo entre o visível e o invisível.

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