A Moderna Dança de Narciso

Num salão adornado com o brilho sutil da ironia, um personagem singular dança sozinho ao centro, cativante como um luar cheio, mas igualmente distante. Este ser, um mestre da autoadmiração, veste-se de encantos e de espelhos, cada movimento uma ode à própria magnificência. Ah, como os espelhos amam-no devotamente, refletindo apenas o que ele deseja ver.

Nesta dança solitária, a música é composta de ecos—palavras suas, pensamentos seus, um coro singular para uma plateia de um. Os livros que lê são diálogos consigo mesmo, páginas que suspiram com sua sagacidade. E as músicas que compõe, óperas de uma só voz, são solos longos que reverberam pelos corredores de sua mente palaciana.

Através das janelas, a noite observa, muda, enquanto ele se deleita com a própria imagem refletida nas taças de vinho. A bebida é amarga, mas ele a adoça com sorrisos para si mesmo, cada gole uma celebração de seus encantos inigualáveis.

E quando ele fala das "verdades" nas paredes—ah, essas são suas obras-primas, murais vivos de um mundo onde cada estrada leva a ele, cada história é a sua história. Não se engane, caro observador, aqui cada verdade é tecida com fios de ouro extraídos de sua mina interior, rica em fulgor, mas talvez pobre em humildade.

Mas, oh! Como é esplêndido o desfile! Assista, mas não se aproxime demais. Admire de longe, pois o calor de sua estrela pessoal pode ser demasiado para corações que batem por algo além do eu. E se por acaso desejar juntar-se a essa valsa, saiba que dançar com ele é mover-se ao som de um ritmo que celebra apenas um coração, uma alma, um ser.

Em sua companhia, você poderá aprender a arte de ser uma nota numa sinfonia, um sussurro numa tempestade de declarações. Mas cuidado, a beleza de sua presença pode ser tão cortante quanto vidro, tão sedutora quanto um abismo adornado de rosas.

Com esse ser, cada dia é um epílogo, cada noite uma cortina que se fecha. No palco de sua existência, todos somos meros espectadores, talvez até convidados de honra, mas sempre à sombra de sua imensa luz. Que papel extraordinário é ser parte deste universo, onde ele é o sol, e todos nós, distantes planetas, giramos, fascinados e cautelosos, ao redor de sua magnífica gravidade.

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