deixei a língua crescer no escuro
até lamber a lâmina que me nomeava.
não fui queimada — fui metal incandescente
que se recusou ao garfo dos profetas.

não vim de cruz, nem de milagre.
sou a carne que nunca virou oferenda.
rasgaste?
apenas a superfície.

há dentes que pensam ser deuses,
há bocas que confundem pele com altar.
mas eu,
sou víscera de estrela caída,
e nenhuma auréola me serve de colar.

não terei teu selo de fé nas minhas costas,
nem tua luz desdentada nos meus pulsos.
visto sombras bordadas por Anciãs,
desenho com saliva a geografia do que foge.

há quem se faça devota de espinhos.
eu escolhi dançar com as víboras
sem jamais perder a lucidez do veneno.

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