não te leio —
te escuto girar.
Entre uma imagem e outra,
há o som discreto
de uma maquinaria emocional
que insiste em funcionar
mesmo com as peças gastas pelo tempo.
não é o poema que fala —
é o esforço contido da alma que ainda tenta.
a chave de fenda do afeto perdido
a girar dentro de um peito que pulsa,
mesmo quando diz que já não espera.
vejo teus versos como placas silenciosas
se deslocando sob a pele do tempo.
e ali, na fricção,
nascem imagens que doem bonito.
há em ti uma engenharia rara:
a que constrói abismos
com a precisão de um relojoeiro.
e por isso, agradeço —
por não disfarçar o esforço,
por deixar visível o gesto,
e ainda assim fazer tudo soar
como se o tempo estivesse,
com delicadeza,
a sussurrar no teu ouvido.
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