Numa sala escura da mente, onde os ecos da consciência reverberam em paredes invisíveis, uma figura solitária caminha. Chama-se Vida, e traz consigo o manto pesado da noite. Cada passo seu, um pulsar de febres intermitentes; cada suspiro, uma névoa de sonhos mal resolvidos.
Não há sol nesta cena, apenas uma lua crescente que joga sombras dançantes sobre um tabuleiro de xadrez esquecido. As peças, inertes, aguardam o toque de um jogador ausente. No entanto, a Vida move-se, inadvertidamente, entre elas, tornando-se peão, rei, torre, numa dança de possibilidades e desespero.
"Presa fácil", sopra ao vento, uma voz que arrasta folhas secas pelo chão de xisto. Mas quem é a presa? E quem estabelece as armadilhas nesta floresta de símbolos e sinais ocultos? A febre arde, recua, e então explode novamente, uma maré que não conhece lua nem calendário, apenas o ritmo imprevisível do coração humano.
Ela se senta ao lado do rio do tempo, cujas águas escuras tecem reflexos de todas as vidas que poderiam ter sido. As estrelas refletem-se nesse espelho líquido, cada uma uma história não contada, uma promessa não cumprida. "E se?" — a pergunta flutua, uma pluma no vento, escapando sempre que se tenta agarrá-la.
Mas então, a aurora. As primeiras luzes infiltram-se sutilmente, tecendo ouro entre os fios de neblina. A Vida levanta-se, seus olhos agora espelhos de um novo dia.
O jogo de xadrez continua, mas as regras mudaram; não mais presa, mas participante ativo, ela move suas peças com uma determinação renovada.
O jogo de xadrez continua, mas as regras mudaram; não mais presa, mas participante ativo, ela move suas peças com uma determinação renovada.
O tabuleiro se expande, engole o horizonte, transforma-se no próprio terreno da existência. E nesse campo vasto e reimaginado, cada passo, cada escolha, ressoa com a promessa de que mesmo as sombras mais longas são simplesmente prelúdios da luz.
Assim caminha a Vida, tecendo entre febres e sonhos, entre presas e predadores, um fio de prata em um céu que amanhece eternamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário