Ainda que o silêncio te faça hesitar

Escrevo-te como quem toca o horizonte no vidro da madrugada.
Dilato o espaço entre as palavras,
abrindo atalhos para que o silêncio te encontre.
As aves, sim, elas nascem no branco,
mas é o teu pedido que lhes dá asas.
Os comboios? Talvez esperem por nós,
talvez aprendam a flutuar,
porque as viagens que plantamos no papel
não obedecem aos trilhos.
A espada ganha paladar no meu gesto;
transformo o frio em mel.
Há tanto em ti que se dissolve em metáforas,
como um segredo ao vento.
E, se morrer é parte de esculpir,
então faço-o sem medo,
sabendo que cada linha
é um pouco de nós que perdura.
Quanto à lua, indigesta ou não,
convido-a a sentar-se.
Faço-lhe um chá de jasmim
e dou-lhe o teu nome como companhia.
Porque, em cada frase que me deixas,
há um mundo inteiro a pedir para nascer.

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